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Por que ensinar arte? Finalmente uma resposta satisfatória.


Marx dizia: “Os produtos do cérebro humano têm o aspecto de seres independentes, dotados de corpos particulares em comunicação com os humanos e entre si”.
Edgar Morin  acrescenta: “as crenças e as idéias não são somente produtos da mente, são também seres mentais que têm vida e poder. Dessa maneira, podem possuir-nos. Devemos estar bem conscientes de que, desde o alvorecer da humanidade, encontra-se a esfera das coisas do espírito , com o surgimento dos mitos, dos deuses, e o extraordinário levante dos seres espirituais impulsionou e arrastou o Homo sapiens a delírios, massacres, crueldades, adorações, êxtases e sublimidades desconhecidas no mundo animal.”

Uma vez, enquanto assistia as aulas de um curso do método Kodaly, perguntei ao palestrante húngaro onde estavam os supermúsicos húngaros e por que ainda não haviam invadido o mundo com seus superpoderes?

Ele me respondeu: “Kodaly e Bartok não estavam interessados em criar supermúsicos mas sim em criar um superpúblico” (POW, que porrada na cara!!!).

Disse ainda que acreditavam que o povo húngaro era um povo bárbaro, sem educação, sem o espírito preparado para ouvir o que eles, não super, mas grandes músicos húngaros criavam. Que se criassem um sistema de educação musical para toda a população provavelmente estariam ajudando a tirar esse povo da barbárie.

Não tenho ideia se eles tiveram acesso ao que Vigotsky, pensador russo, escrevia sobre o assunto, mas parece até que sim, vejam só:
Desde tempos remotos compreende-se o sentido da atividade estética como catarse, ou seja, libertação do espírito das paixões que o atormentam. 

A emoção estética tem uma natureza dialética: a contradição, a repulsão interior, a superação e a vitória são constituintes obrigatórios do ato estético. É necessário ver o feio em toda sua força para depois colocar-se acima dele no riso. É necessário vivenciar com o herói da tragédia todo o desespero da morte para com o coro elevar-se sobre ela.
A arte implica essa emoção dialética que reconstrói o comportamento e por isso ela sempre significa uma atividade sumamente complexa de luta interna que se conclui na catarse. A arte não é uma complementação da vida mas decorre daquilo que no homem é superior à vida.

A humanidade acumulou na arte uma experiência tão grandiosa e excepcional que qualquer experiência de criação doméstica e de conquistas pessoais parece ínfima e mísera em comparação com ela.

Por isso, quando se fala de educação estética no sistema de educação geral deve-se sempre ter em vista essa incorporação da criança à experiência estética da sociedade humana: incorporá-la inteiramente à arte monumental e através dela incluir o psiquismo da criança naquele trabalho geral e universal que a sociedade humana desenvolveu ao longo dos milênios, sublimando na arte o seu psiquismo.
Aqui reside a chave para a tarefa mais importante da educação estética: introduzir a educação estética na própria vida. A arte transfigura a realidade não só nas construções da fantasia mas também na elaboração real dos objetos e situações. A casa e o vestuário, a conversa e a leitura, e a maneira de andam, tudo isso pode servir igualmente como o mais nobre material para a elaboração estética.


Fiquei assombrado quando assisti um vídeo de um programa de auditório da Noruega. Parece um tipo de “Qual é a música”. Vale a pena ver, não só pela música e pela qualidade da cantora mas, principalmente, pela qualidade do público.

O silêncio visto aqui não é apenas uma atitude de respeito ao artista, ao outro que também ouve, mas antes de tudo um respeito a si mesmo, respeito ao espaço/tempo criado pela arte, que o espírito tanto necessita para chegar à sublimação.

Morri de inveja. Morri escutando a música. Morri ao ver/ouvir a cantora.
Quero mais é que vocês morram também.


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Wilma Abondanza Kuhlmann

Extraordinário...texto e vídeo!

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