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Monografia - monotonia



(Recebi ontem a devolutiva do meu projeto de monografia. Á'rduo, minucioso e admirável trabalho do professor responsável por nos orientar nessa primeira fase. Estou aprendendo muito e sou muito grato a todos e a tudo que me leva nesse sentido. Nesse projeto está a minha intenção de falar sobre um assunto que coloquei em dezembro aqui nesse blog. A monografia, pensei, pode ser uma chance de fazer esse estudo mais detalhado sobre o que já consegui falar. Mas, se é a monografia a melhor maneira de fazer esse estudo, como escrever de maneira menos pessoal e enxergar essa criatura como coisa nascida de mim?)

Apolo lamenta por Dionísio. Dionísio ri de Apolo.

“Eu não pensa, eu não diz nada, quem pode dizer é sempre outra pessoa.” Foi o que falou Apolo a Dionísio, quando esse insistia em colocar sua cara na monografia. Dionísio argumentou (aqui Dionísio, não só Apolo, argumenta): “Como poderás supor alguma coisa sem que antes eu lhe mostre que essa coisa exista? Conheces apenas o conhecido, te referes somente às coisas que outros já comentaram, só vê as coisas da maneira que os outros já viram. Não percebes que não falas? Só interpretas citações.”
Apolo que me perdoe, mas eu, Dionísio, tenho sempre coisas passando pela minha cabeça. Coisas sem pé nem cabeça, que brotam do pé à cabeça. Elas me movem. O pé e a cabeça atrás delas.
Eu divido meu corpo com Apolo. Apolo passa pelos mesmos lugares que eu, com seu corpo e com sua cabeça, mas ele conhece as coisas de uma maneira diferente de mim. Eu tenho prazer em sentir as coisas, em mexer nas coisas, até mesmo em diferenciá-las. Ele tem prazer em compreendê-las, organizá-las e até mesmo prever quando irão aparecer.

Só Apolo é convocado.

Monografia. Dionísio e Apolo quiseram se manifestar. Mas só Apolo foi convocado. Até ele sabe que depende de Dionísio para conhecer as coisas.
O trabalho mais árduo dessa dupla será dar um jeito de se colocar. Senão não valerá à pena.
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