1

Precisa-se de professoras maluquinhas

Entrevista do Ziraldo a Revista Profissão Mestre

Escritor, editor, repórter, cartunista, cartazista, desenhista, poeta, chargista, palestrante. A lista de ocupações de Ziraldo é longa e não pára de crescer. Os 130 livros infanto-juvenis que escreveu nesses 71 anos de vida e 23 anos dando palestras em colégios privados e particulares fazem dele, na sua própria definição, o maior Aspite (Assessor de Palpites Educacionais) do Brasil. E é nessa condição de aspite, de alguém que respeita os jovens e crianças ao não insultar suas inteligências, que Ziraldo recebeu a reportagem de Profissão Mestre. “Eu já disse para o Cristovam Buarque (ministro da educação) que é preciso mudar tudo na educação do nosso País”, conta. “A escola brasileira, em seu início, tem de ser formativa e não informativa”.

Só que existe uma grande pressão por resultados, por boas notas. Em algumas instituições de ensino chega-se a fazer um “vestibulinho” para o ensino fundamental. As crianças, assim, são submetidas desde cedo a uma pressão, a uma cobrança dos pais que não é saudável, na visão do pai do Menino Maluquinho. “Eu sempre digo que o pior que um pai pode fazer pelo seu filho é fazer planos para o futuro dele, é prepará-lo para o futuro. A criança tem de ser feliz no presente. Se você agir assim, cobrando desempenho, você só vai angustiá-lo, não vai fazê-lo feliz. Menino que foi feliz vira um cara legal. E feliz é o menino que brinca, que volta para casa todo sujo. Eu não conheço nenhum canalha que tenha sido uma criança feliz”.

Assim, não é de se admirar que muitos alunos percam o gosto pelo estudo. A escola deixa de ser o lugar divertido, de descobertas que deveria ser e passa a ser um centro de pressão, disputas e estresse. “O problema é que as pessoas acham que a gente tem de sofrer para dar valor as coisas. Quando você exige que o seu filho tire dez em tudo, você só produz uma pessoa carregada, competitiva. Se você chega dessa maneira à idade da razão, na hora das decisões você vai usar uma razão deformada, que vê tudo como um jogo de ‘eu contra eles’. Nesse sentido, o maior inimigo da escola é o lar.”

O escritor acredita que seja por isso que o professor e os diretores devem trabalhar muito a família, trazê-la para dentro da escola. “Botar quem paga a mensalidade dentro da escola, discutir com eles”. Ziraldo afirma que essa característica, de envolver a família e a comunidade, é um dos setores em que muita escola pública leva vantagens sobre as escolas particulares: “A classe média e os ricos acham que pagam uma boa escola e isso basta. O operário tem sonho de ascensão, então ele participa mais da escola do filho, das reuniões de pais. Ele tem grande orgulho de ser pai e de estar ali. Ele quer que o seu filho tenha tudo o que ele não pode ter”, e completa dizendo que as coordenadorias e direções mais interessadas e atuantes que ele já viu estão em escolas públicas.
 Professores maluquinhos – Que ninguém pense que essa visão é romântica ou alienada. Pelo contrário. Enfatizando o gosto pela escola, o amor pela leitura e a criatividade, Ziraldo está mais atual do que nunca. “Esse é um mundo onde precisamos, todos, sermos eternos aprendizes. Sem professores ao nosso lado, precisamos contar apenas com nossa curiosidade e nossa vontade de aprender”. E afirma que qualquer instituição de ensino pode estimular essas qualidades em seus alunos, se contar com um ingrediente: “o que mobiliza uma escola é sempre uma professora maluquinha. Uma pessoa absolutamente vocacionada, que em geral está sempre em conflito com uma diretora que não é vocacionada”.

Ziraldo conta que teve a sorte de ter uma “professora maluquinha” logo na primeira série. Ele conta que sua professora Cati chegava sempre com a bolsa cheia de livros e gibis e adorava contar histórias para os alunos. “Ela tinha 16 anos e não sabia de nada, mas adorava ler. Chegava na escola com a mala cheia de gibis. E lia os seus romances para nós. Quando tocava a sineta, nós entrávamos voando na sala porque queríamos ouvir as histórias e ler os gibis e livros que ela trazia”.

Alunos correndo para entrar em uma sala de aula, alegres. Quantas vezes isso acontece? Aquela professora fez com que todos passassem a ter o prazer pela leitura e pela escrita. E no final do ano todos os alunos foram reprovados. Os exames eram padrão, corrigidos na capital Belo Horizonte e a turma do Ziraldo não teve o conteúdo programático esperado. “Tomamos bomba, mas fazíamos redações maravilhosas. Dos 30 alunos da turma, seis viraram escritores.” É um começo da escola formativa defendida por nosso aspite.

E, no mesmo fôlego, ele afirma que falta de recursos ou de apoio não é desculpa para não ser um professor ou professora maluquinha. “Dá para fazer porque criar é tirar leite de pedra. Onde é que as civilizações nasceram? Nos lugares de intempérie. A criatividade é resultado das dificuldades. Então, neguinho diz que não fez porque não tinha recursos. E eu retruco: Ué, aí é que você tinha de fazer, pô.”

Ler por ler – Para terminar, Ziraldo deixa um alerta: a literatura não tem de ser exercício para nada. Não tem de ter contrapartida didática. O livro é maior que a vida, é maior que o próprio universo, pois o universo inteiro cabe dentro do livro. “Eu faço livro pela paixão pelo livro, eu faço livro para a criança gostar de ler, não para aprender conteúdos. O livro contém as duas coisas mais importantes do mundo, o tempo e o espaço. A palavra que vai dar sentido à sua vida é a palavra que está escrita. O sentido e o segredo da vida está escrito num livro”.

0

Fool On The Hill - exercício de aula

melhor visualização no YouTube

Partitura (clique em cima para ampliar)


1

Uma breve análise crítica da teoria de Jean Piaget, baseada na observação da obra “Relatividade” de M.C. Escher


por
André Vincentin
Diogo Monsores Vieira
Carolina Lopes de Oliveira e
Paulo Tercio Galati

Comparações
a concepção de que devemos observar (algo) guiados pela multiplicidade envolvida e não com uma expectativa eminentemente pronta
Para Piaget é necessário propor um olhar diferenciado e múltiplo para as coisas, sendo este sugerido como uma espécie de exercício para as interpretações cotidianas e reflexão da realidade.
Também para observar a obra de Escher é preciso cultivar a predisposição de ver várias perspectivas e tornar a mente disposta a articular essas visões para conseguir relacioná-las
estimular um raciocínio condiz com uma condição transformadora por meio de inevitável pesquisa, levando a reinventá-la
Para Piaget a tarefa principal da educação é estimular o raciocínio, não ser apenas uma formação, mas sim uma condição formadora, ligada estreitamente à pesquisa. Ao invés da criança apenas copiar o conteúdo apresentado, ela deve ser levada a reinventá-lo.
Na obra de Escher, a quebra dos padrões e regras da gravidade e das dimensões, instiga uma visão crítica e o raciocínio lógico, além disto, leva o observador da obra a reinventá-la a cada mudança de perspectiva no olhar. Mundos diferentes e únicos sendo percorridos simultaneamente nos são apresentados na obra, que dialoga a arte e a geometria de maneira interdisciplinar assim como Piaget, com a  possibilidade de múltiplas combinações entre as várias áreas do conhecimento, pensando o ensino como uma questão geral, como um todo relacionado.
um movimento cíclico que nem sempre faz sentido
No desenho acima, as pessoas que caminham pelas escadas parecem ser a mesma pessoa, parece um registro dos vários momentos de um dia ou de um mesmo fazer. E todos os caminhos têm uma porta, um fim que se abre para outro lugar que aqui não é visto inteiramente. Em Piaget o movimento de desenvolvimento da mente humana é determinado por etapas, passando por processos que à primeira vista podem ser vistos como movimentos cíclicos sem sentido, mas que na realidade são vivências nas quais juntam-se informações e experiências que alteram seus esquemas*, em processos de assimilação e acomodação até que reequilibra, alcançando outros patamares. Podemos comparar ainda Escher ao pensamento multidisciplinar de Piaget sob o ponto de vista da complexidade do sistema de conjunto e dos vários ângulos e possibilidades de observação, experimentação e oposição ao fracionamento, uma vez que a estrutura apresentada na obra é cíclica.
*esquema: ações básicas de conhecimento, incluindo ações físicas/motoras, sensoriais e mentais.
brincar com as nossas certezas estabelecidas
É o que Escher sempre gostava de fazer. Parece que brinca com o que Piaget chama de equilíbrio, que é baseado em uma série de esquemas que permitem organizar o caos inicial de sensações. De fato, ao olhar para o quadro “relatividade” nos vemos obrigados a refazer constantemente a noção de equilíbrio para reorganizar nosso entendimento sobre ele.
Apreciação
Piaget tem uma visão múltipla para criar um método de observação, mas (pela norma da ciência) estabelece uma teoria fechada que, entre outras coisas, definiu etapas associadas às idades que ele constatou em suas experiências.
Mas talvez esse não seja o maior motivo das críticas que se faz a ele atualmente.
Alguns estudos indicam que o desenvolvimento cognitivo é favorecido pelas interações sociais, mas parece que o próprio Piaget, ao menos no final da vida, suspeitava desse fato.
Outro fato é que, fora dos padrões europeus e de sua época, as crianças são muito mais estimuladas e interagem mais com os adultos, aprendendo mais cedo do que ele apontava sobre sentimentos e as reações dos outros. Isso nos parece indicar que idade estabelecida por ele entre as etapas devem ser encaradas como barreiras móveis, absolutamente permeáveis, não invalidando o mais importante de suas pesquisas, que foi o fato de estabelecer a existência dessas etapas.
Outra observação é que a imitação ocupa um lugar bastante importante para o desenvolvimento cognitivo. Pode-se dizer que a recriação acontece aí, após este processo, quando a criança provida de recursos vindos de diferentes fontes recria o conhecimento adquirido. Nisso se dá também o poder transformador do meio.

Conclusão
Como educadores devemos ver os alunos e as situações vividas em sala de aula, assim como enxergar a teoria de Piaget com o olhar proposto por Escher em sua obra. Um olhar relativo, que vê um prisma de possibilidades e procura enxergar cada aluno sob vários ângulos, com realidades distintas ainda que fazendo parte do todo de um conjunto.
Siguiente Anterior Inicio