0

Como percebo meu corpo durante minha prática musical

1.  Ensinando
a.  Aulas de canto: Passo a maior parte do tempo sentado. Uso o violão com mais frequência que o piano. Percebo que as expressões do rosto e do corpo ajudam ao aluno se deixar conduzir aos objetivos da aula, seja a emissão vocal, seja entrar em sintonia com o andamento, como o peso do ritmo musical, a articulação. Então, mesmo sentado, meu corpo reage de maneira diversa conforme a música e o que estamos buscando, e isso reflete no rendimento do aluno. Em diversos momentos fico em pé, principalmente quando o foco da aula está concentrado na postura, na observação das tensões, na respiração e mesmo quando apenas estamos dançando a música para sentir sua essência expressiva.
b.  Ensaios de coral: Nessa atividade eu me movimento muito. No último ensaio uma coralista perguntou, ao final, o que estava escrito na minha camiseta e falou “- Você não fica quieto um segundo, não dava pra ler.” Atualmente a média de idade dos corais que dirijo é alta (media de 50 anos ou mais). Quando lido com pessoas mais jovens as atividades físicas no ensaio são mais frequentes. Mas gradativamente vou buscando complementar o aprendizado do repertório com um fazer musical mais corporal, pois acho imprescindível aos coralistas a noção de que um coro é um somatório de individualidades coordenadas, que um coro, em todos os sentidos e principalmente o musical, é um coletivo e isso significa muitas vozes, muitas cabeças, muita diversidade convergindo para ações conjuntas e não, como vejo na maioria dos corais, como um só grande corpo comandado por uma cabeça. O resultado sonoro é muito diferente, apenas por este único aspecto. O cara que integra esse coro não pode ficar lá, sentado, cantando como se estivesse em outro lugar. Pra voz dele integrar com o resto, com a música que está sendo feita, seu corpo precisa estar presente, ocupar um lugar no espaço, incomodar (no bom sentido) o espaço dos outros, cavar esse espaço físico onde se dará a expressão de sua música.
Então o meu corpo é usado como motor para estímulo de cada expressão particular. Um gesto de entrada é apenas o estímulo para o gesto de cada um no encontro de todos os aspectos musicais que cada corpo traz à tona naquele momento específico de entoar um som.

2.  Tocando
a.  violão ou baixo elétrico: Não me considero um instrumentista. Uso o violão como apoio às minhas atividades. Comecei a estudar baixo elétrico para tentar mudar isso em relação aos instrumentos, pois sempre me vi tocando com desenvoltura bem inferior que cantando ou regendo.
Minha atenção corporal é voltada à postura e à mecânica dos braços e dedos. Observo minhas tensões, faço alongamentos durante os estudos. Mas isso é pouco. Acho que por não ter a música fluindo entre meus dedos a interação música-corpo acaba sendo bem pequena.
b.  Cantando: Apesar de dar aulas de canto, de ter passado grande parte da minha vida ensinando as pessoas a cantarem, poucos foram os momentos em que cantei sozinho. Quando isso acontece não é muito diferente de quando estou ensinando a cantar, cantando junto. Faço uma observação automática de minhas tensões e costumo usá-las de maneira eficiente para esse fazer musical (maxilar, ombros, joelhos e quadris são os pontos mais observados). Talvez isso seja pouco, já que um cantor em cena é quase como um ator em cena, ou seja, precisa saber o que fazer com o corpo porque o corpo está sempre dizendo coisas e o que ele diz deve ser todo coerente com o que está cantando (os significados musical e literário do que está cantando). Busco essa coerência expressiva sem exageros, com economia de gestos - não confundindo com gestos reprimidos (embora em algumas vezes por falta de um repertório de gestos eu prefira não arriscar) - muito parecido ao que naturalmente busquei para a regência coral, ou seja, os movimentos que brotam espontaneamente como se a música surgisse deles e não o contrário.

Faça um comentário...

Postar um comentário

Siguiente Anterior Inicio