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Metodologias para o ensino da música - - - 1ª geração: - Dalcroze


Quem fica parado é poste

Quando comecei a dar aulas de percepção musical na ULM Universidade Livre de Música peguei umas turmas enormes, com até 120 alunos na sala de aula. Como iria perceber, no meio de tanta gente, aqueles que tinham maior dificuldade em realizar os exercícios propostos de, rítmica, por exemplo?

Iniciei a fazer vários dos exercícios com a marcação do pulso em pés alternados, todos em pé, começando para um mesmo lado (esquerda ou direita) e realizações de outras células rítmicas com a mão, com movimentos de mãos e braços ao invés de palmas, cujo som ensurdeceria a todos. Uma das coisas que fazia para corrigir aqueles que não conseguiam manter o andamento correto era, ao invés de avisá-los de que estavam errados (mais lento ou mais rápido do que deveriam estar), me colocar ao seu lado e, encostando meus ombros aos seus, pedir que me acompanhassem, induzindo-os a um movimento pendular maior (se ele estivesse mais rápido que a pulsação) ou menor (se ele estivesse mais lento). Eu dizia “mais curto” ou “mais longo” e não “mais rápido” ou “mais lento”. A partir daí pedia aos colegas que estavam ao seu lado a continuarem orientando-os dessa maneira, quando necessário.

O tempo é algo difícil de manipular. Ele, na dimensão da percepção humana, é sempre relativo, hipotético, invisível, abstrato. O espaço não. O espaço é visível, dimensionável. Por isso é mais fácil de ser manipulado por quem tem dificuldades rítmicas.

Eu não conhecia Dalcroze. Mas o que estava fazendo era um, digamos assim, pensamento Dalcroziano. Por isso suas ideias me causaram uma feliz sensação de obviedade por achar que seus conceitos eram de uma coerência natural. Mas também me causou indignação por ver como era desperdiçado. Ninguém na ULM o usava sistematicamente com adultos (se alguém usava ocasionalmente eu não sei). Nem na ULM nem em escola nenhuma em que havia estudado ou dado aulas. Não o acho genial (claro, um século depois). Acho mesmo é um grande equívoco não usá-lo (que atraso de vida).

Não estou falando em adotar somente a metodologia de sua pedagogia musical porque muita coisa existe de boa e necessária além do Dalcroze. Mas seu pensamento é básico, lógico e funcional para trabalhar várias competências musicais, a começar pela rítmica, mas também a ideia de frases, de forma musical, de peso/leveza, rarefação/concentração. Sem falar na integração que isso faz entre a mente e o corpo do instrumentista, facilitando uma performance musical mais apropriada.



Contexto da época - Até então o ensino musical tinha como finalidade a arte do canto, do instrumento e introdução a harmonia e o contraponto. Os pedagogos impunham aos seus alunos exercícios de técnica instrumental, sem procurar desenvolver a sensibilidade e gosto, e afirmar a personalidade. Assim as escolas de música só serviam aos "dotados". com vozes afinadas e bons de ouvido. Foi neste contexto que o suíço Emile Jacques-Dalcroze (1865-1950) criou seu método eurrítmico. *1
 
 
Metodologia - Para entender melhor como a metodologia pode ser aplicada, imagine-se o aluno de uma escola de música tradicional. Quando está no conservatório, ele permanece boa parte do tempo sentado, fazendo apenas os movimentos relacionados ao aprendizado do instrumento musical. Ao adotar os princípios da Rítmica Dalcroze, porém, esse mesmo estudante vale-se do ensaio para movimentar todo o corpo no ritmo da música. É quando ocorre a interação entre melodia e gesto. Não raro, a experiência serve de estímulo à criatividade, uma vez que está intimamente ligada à improvisação. “O mais interessante desse método é que ele pode ser adotado por qualquer um, independente de idade, sexo ou condição física. Cada pessoa pode se movimentar dentro das suas potencialidades e limites”. *2


*1   http://batepapoafinado.blogspot.com/2009/09/metodo-dalcroze-breve-resumo.html
*2  http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2006/ju332pag12.html



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